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2023 fez de mim um suco!

2023 fez de mim um suco. Lembro sempre do suco de laranja que a gente espreme e estica a laranja até sair a última gota de suco. Senti-me assim nesse ano que se finda. Foi um ano extremamente desconfortável em todos os sentidos e algumas lições ficaram para minha bagagem de vida. Minutos antes de escrever esse texto, assisti a uma fala da professora Lúcia Helena Galvão que falava da importância de ser leve - coisa que minha psique definitivamente não é – e que, para isso, era importante guardar a lição, mas não levar o fardo das experiências dolorosas. O fato é que, nesse ano, tive que me despir da menina birrenta que sempre fui e aceitar que a grande maioria das coisas não acontece como a gente quer. Aprendi que brigar com a realidade cansa muito e eu chego ao final de dezembro extremamente cansada, em parte, por isso. Por não seguir o fluxo da vida, por não aceitar muitas coisas, por tanto padrões. Sempre me achei muito madura a minha vida inteira, mas descobri que eu não sou. Estou começando agora, a pequenos passos, entender e aceitar algumas coisas que são inerentes à condição humana. Meu pensamento rígido e fixo me cansou muito ao longo desses anos. 2023 me ajudou a entender que precisamos realizar alguns sonhos sozinhos, e se realmente não botarmos pra frente, ninguém vai entender a importância que eles tem. E o pior de tudo: ninguém tem essa obrigação! A gente que se coloca no centro de tudo e acha que os outros precisam sentir como nós. Eu acho que nesse ano eu reclamei mais que agradeci, mas acho que fiz isso porque é desconfortável amadurecer e viver. O tempo vai passando e tudo vai ficando mais complexo, com mais variáveis, com mais pessoas, mais condições. Decisões se tornam mais difíceis. Ainda estou tentando aceitar que mudei em alguns aspectos e que alguns caminhos não me servem mais. É difícil desconstruir o ideal que foi construído a vida toda para ser seu único caminho. Para mim, que planejo tudo, no início do ano optei por não estabelecer metas, acho que minha intuição já previa como tudo isso seria. Minha função psicológica pensamento é muito forte, logo, minha função sentimento fica um pouco a desejar. Eu detesto ter que sentir as coisas. Sentir a raiva, a tristeza, a frustração. É tudo difícil pra mim.

Mas também aprendi que nem tudo é preto e branco, como minha mente normalmente funciona. Há tons de cinza e tudo é sempre um meio termo. Existiram coisas boas em 2023. Na verdade, as coisas que eu julgo ruins foram apenas o desconforto de crescer. Eu desenvolvi habilidades que eu nem sabia que tinha e gostei disso. O meu curso, que eu sempre quis fazer e não tinha coragem, foi um sucesso! Fiz novos amigos, entreguei mais do que eu previa, e consegui realizar um sonho de empreender pelo menos uma vez na vida. Nesse ano, vivi – e sigo vivendo – a experiência do casamento. De conviver diariamente com alguém que vai descobrir milhões de defeitos seus. Isso é cruel para uma perfeccionista como eu. É quando as máscaras caem, e a gente mostra apenas o que é e ainda mais: precisa acolher todas as nossas características que nós mesmos não aprovamos. Mas fazer isso com alguém que amamos traz certo conforto e a paz de não estarmos sozinhos. Casamento é amor, mas mais ainda, a empatia de acolher o outro como ele é. E antes de acolher o outro, acolher a nós mesmos! A escola também me rendeu boas risadas, momentos emocionantes, a imprevisibilidade que eu não suporto mas que me adaptei (porque minha rigidez conflita com a fluidez da escola). Fui premiada em dose dupla no momento quase exato em que eu tava me sentindo um fracasso. O que me fez olhar com mais empatia para mim mesma – pelo menos naquele instante. Ainda tenho dificuldade de celebrar minhas conquistas, é como se elas não fossem suficientes. Não sei se você também se sente assim, mas a gente idealiza tanto e a régua social é tão alta, que tem coisas tão bonitas que acontecem, que se perdem na frase “isso é o mínimo”. Às vezes, é o nosso máximo. E a gente passa a vida frustrado porque nunca consegue atingir o que disseram que a gente precisava atingir. E a vida vai se perdendo, nesses detalhes pequenos, nessas alegrias que são abortadas antes mesmo de vingarem.

Estou quase encerrando uma década, ano que vem findo os dolorosos e caóticos 20 e poucos anos. Mas só agora estou começando a entender algumas coisas, a suportar algumas coisas. Hoje, olho para trás e vejo quantas coisas bonitas já me aconteceram. Uma carreira bonita com muito significado, uma profissão que me faz feliz, um trabalho que me permite viver bem, um casamento com alguém que amo, um lar, pais encarnados, uma religião à qual me sinto pertencente, um corpo saudável. E tantas outras coisas que, na ânsia do cotidiano e da pressão dos “Under30”, não se tornam suficientes para o paradigma de sucesso atual. Libertar-se dessas amarras externas é difícil. Por que eu preciso fazer isso? Por que tenho que conseguir tudo antes dos 30? Por que eu não posso simplesmente parar? Quando eu vou apenas desfrutar sem culpa?

Espero conquistar mais leveza em 2024. Acho que essa é uma das minhas principais metas que não irá para o papel. Porque essa meta precisa estar no sentir, e não no pensar. Aos 29 anos, ainda sigo despreparada para a vida. Na verdade, o caminho que era inabalável nem é mais considerado. Ainda existe muito choque entre a antiga Geilza e essa Geilza que vem aparecendo. Acredito que isso se dá a resistência à mudança que é muito forte em mim. Eu sou apegada ao antigo. O fato é que eu nem sei por onde começar... mas acho que descobrirei no caminho. À 2023, apesar de tudo, a minha gratidão por um dos anos mais intensos, dolorosos, emocionantes, cansativos e profundos que já vivi. Espero continuar a viver, sem a necessidade de entender. Viver ultrapassa qualquer entendimento.

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