A passos de formiguinha
- profgeilzalima
- 27 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Quando olho para trás e vejo 2024 por inteiro, tenho uma tendência a ver apenas as coisas boas que aconteceram. Acho que essa é uma tendência humana: não conseguir enxergar a totalidade das coisas. Ainda é comum comemorar a chegada ao objetivo final e esquecer-se dos processos que nos fizeram cruzar a linha de chegada. Esse ano foi prazeroso e doloroso, incrivelmente belo e difícil. Acho que minha maior luta foi comigo mesma, com os meus pensamentos. Mergulhar no mundo interno como eu mergulhei e mergulho a cada dia traz uma profundidade que, infelizmente ou felizmente, não dá pra voltar atrás. Tenho uma tendência a racionalizar tudo, entender as teorias por trás de tudo, falar sobre tudo, mas sentir é o meu calcanhar de Aquiles. Não gosto de sentir as dores, as incertezas, as tristezas. E nesse ano, eu precisei sentir o máximo que eu podia. Descobrir mais coisas sobre mim e tentar, por mais uma vez, alguns processos, além de tolerar, aceitar e me frustrar. Aceitar que muitas coisas não irão se realizar ou, pelo menos, não diante de muitas escolhas feitas. Lidar com a diminuição gradual das possibilidades, os novos sentimentos que o amadurecimento traz, a paciência de aceitar o que já é – a realidade. As pausas para o café tornaram-se cada vez mais melancólicas e trouxeram uma avalanche de pensamentos, insatisfações, alegrias e ansiedade. Tive a sensação de estar presa dentro de uma mente que pensa demais, esse é o meu dilema de vida. Pensar demais. Refletir demais. Mas olhando agora o findar desse ano, vejo que não trocaria isso por uma superficialidade mais fácil. A coragem do mergulho profundo é o ouro de poucos. Olhar, agora em dezembro, as metas atingidas como algo apenas deste ano não é justo. Todas as conquistas desse ano foram fruto de uma construção que se dá a cada dia. Refiro-me às conquistas abstratas. Meu grande desafio desse ano foi me manter sã em um mundo no qual nada é suficiente. Um mundo ou uma mente? Aprendi (um pouco) a lidar com a minha desimportância e pequenez. Uma coisa que observei é que quando a gente consegue aceitar algumas coisas, abre espaço para que outras cheguem. E as coisas só chegam realmente quando estamos prontos – na verdade, quando estamos dispostos a construir um estado de entrega. Realizei muitas coisas esse ano... um ano de trabalho muito bonito, um aniversário exatamente como queria, a aprovação no doutorado, momentos planejados e organizados para receber pessoas na minha casa, a dedicação a minha casa, mas nada se compara ao pouquinho de resiliência, amadurecimento, clareza e lucidez que conquistei. Sou muito animada com o ano novo, embora não acredite em mudanças repentinas. Mas estou esperançosa com 2025, com os novos ciclos, a nova rotina que virá, as novas experiências. Espero que você também esteja. Não importa se não aconteceram grandes mudanças, ou grandes conquistas, ou grandes aquisições. Existem anos que, aparentemente, não conquistamos nada. Ano passado eu tive essa sensação. Mal sabia que os processos do ano passado só seriam concluídos esse ano. Outros seguem em curso. Outros estão iniciando. Não se pode fracionar o aprendizado da vida em temporadas anuais. Isso nos traz a sensação de que nossas metas não foram atingidas, quando na verdade muitas metas levam anos para se concretizarem. E esta sensação de fracasso aparece porque mensuramos as coisas sempre com uma escala fantástica. As minhas grandes lições desse ano foram aprendidas no extraordinário dos dias ordinários. No marasmo da rotina, no meu mundo interno. As grandes conquistas só a gente desfruta, porque nem descrever a gente consegue. As grandes conquistas, por vezes, levam mais de um ano. A gente só percebe que cresceu. E nem sabe como aconteceu ou o que fez isso acontecer. E quando vai ver, estamos bem diferentes do que éramos lá no início do ano. Essa é a magia da vida. Grandes coisas ocorrem pelo acúmulo de outras diminutas.
Desejo a você um ano novo de pequenas mudanças.
Saúde e paz!
Geilza
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