A vida não tem manual de bordo
- profgeilzalima
- 23 de jan. de 2022
- 2 min de leitura
A vida não tem manual de bordo. Embarcamos sem saber absolutamente nada. Não falamos, não andamos, não comemos sozinhos, não lemos. A sensação é ser empurrado de um avião e ter que construir o paraquedas no meio do caminho. Se não arriscamos, não conseguimos. Se não caímos, não aprendemos. Imitamos boa parte da vida. Repetimos. Vencemos. Aprendemos a andar, a falar, a ler, a cozinhar, a andar de bicicleta, a nadar. Mas a verdade é que há coisas que nunca aprenderemos. Porque a vida não tem manual de bordo. Nunca aprenderemos a conhecer um amor. Nunca aprenderemos a nos despedir de alguém amado. Nunca aprenderemos a viver o luto de uma pessoa querida. Nunca aprenderemos a enfrentar uma doença grave. E nunca aprenderemos porque nunca estaremos prontos, e por muito tempo na minha vida, eu quis estar pronta. Sempre criei mil situações na minha cabeça para tentar viver o que ainda não chegou e ter a falsa sensação de segurança sobre como eu reagiria, com a falsa ideia de não ser pega desprevenida. A verdade é que nunca estaremos prontos e sempre estaremos desprevenidos. E mesmo que passemos por estes momentos, nunca estaremos prontos para os próximos, porque eles nunca serão iguais e vida não tem manual de bordo. Acredito que viver não é esperar ansiosamente que os momentos cheguem, mas dar um voto de confiança à vida. De ver essa imprevisibilidade como uma oportunidade de ser surpreendida e sentir curiosidade no porvir. Curiosidade, não medo. Infelizmente, não podemos tomar vacinas com momentos dolorosos atenuados para nos sensibilizarmos. De fato, não tem como nos imunizarmos sentimentalmente. Passar ileso pelos momentos, felizes ou tristes, não faz parte da condição humana. Sempre tive medo da dor e da tristeza, mas percebi que apesar de ela ser muito assustadora de fora, ela te acolhe no olho do furacão. E é nesse acolher, que você se reconhece como pessoa forte. Há fortaleza na fraqueza. Há fraqueza na fortaleza. Podemos ser fortes, sendo fracos. E fracos, sendo fortes. E é nessas antíteses que a vida se configura, porque ela não é preta e nem branca. A vida é cinza e ela não tem manual de bordo. A vida é aquele dia ameno, que te engana por um momento, mas quando você sai na rua sem guarda-chuva, rapidamente as nuvens brotam e ele te molha. A vida é aquela comida feita às pressas, com poucos temperos, que fica gostosa. Vejo a vida também como aquele dia que você desperta cedo sem ter a necessidade e contempla a vista e agradece por mais um dia. No fim das contas, o algoritmo da vida não oferece repetições, nem spoiler, nem instruções. Porque, felizmente ou infelizmente, a vida não tem manual de bordo. Pula.
Geilza
Comments