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Na contramão

Nos últimos dias, me peguei a refletir sobre tantas cobranças feitas para nós vivermos de forma mais saudável. “Você precisa evoluir!”, “Você não deve criar expectativas”, “você não pode depender tanto do outro”, “você não deve esperar que os outros cumpram as suas expectativas”. O fato é que imergimos nesse manual de instruções e tentamos viver da forma mais consciente possível, tentando melhorar os comportamentos que são julgados como problemáticos. A sensação que me dá é que sempre tenho um problema a resolver e não falo de problemas externos, mas de questões internas. A ansiedade é um problema, o perfeccionismo é outro problema. A rigidez é um problema, assim como o imediatismo também o é. E chega um momento que você olha para os lados e é como se você estivesse vivendo totalmente errado e sem perspectivas de melhoras porque quando você é testado pela vida, quase sempre responde com aquele mesmo repertório. Talvez em outro Universo Paralelo, exista uma versão nossa que consiga ser tudo aquilo que a terapia sugere, ou o que as páginas do Instagram de autoajuda propõem, ou ao que as pessoas próximas nos estimulam. Mas na última semana percebi que, na ânsia de melhorar a si, perdemos o que nos faz sermos quem somos. Todos os nossos fantasmas que habitam em nós fazem parte de nós. Não é que não somos capazes de mudar, é só que esse processo não é tão controlável assim e quando tentamos ser conscientes em tudo, a vida se torna pesada. Nessa semana, tive minhas expectativas atendidas em determinado momento e depois que comemorei, me veio o sentimento de que aquilo era errado simplesmente porque ouço sempre dizerem que não devo esperar que as pessoas cumpram as minhas expectativas. Certo... Mas e o meu direito de comemorar algo que pra mim foi bom? Esse processo de tentar melhorar gera uma auto-cobrança tão absurda que, às vezes, você só quer ser quem você é, sem precisar estar melhorando sempre. Ser a pessoa birrenta quando não fazem como você queria, ou querer ignorar algo que você simplesmente não quer lidar, ou procrastinar algo só que realmente não gosta. Sabe... viver de forma mais intuitiva, como já foi um dia. Sem esse peso de tentar ser uma melhor versão que, no final nas contas, nem existe. Que a gente força a aparecer, porque na verdade somos o que somos e não o que queremos ser. Entender isso é um alívio para o corpo e para a mente. Enquanto grande parte da sociedade começa um movimento de mudar comportamentos para viver melhor, eu penso que acolher a minha personalidade sem a necessidade frenética de estar mudando tanto acaba sendo mais saudável. Não é que não mudaremos, mas isso precisa ser espontâneo. Entre tomar consciência de determinada coisa e vir a mudá-la existe um abismo que, em alguns casos, não será ultrapassado. Talvez não precisemos mudar algumas coisas, apenas diminuir os danos. A vida já nos traz tantas demandas externas diárias de trabalho, família, amigos, saúde... que, além destas, viver com as cobranças internas acaba sendo um fardo muito pesado que pode trazer consequências mais graves. Permita-se ser quem você é com as lentes arranhadas mesmo, talvez você nem queira mudar. Será que é realmente preciso? O que seria, de fato, evoluir? E hoje (na verdade, nos últimos dias), entre o sofrimento de lidar com as consequências de ser quem eu sou e a frustração de não conseguir ser quem eu “deveria” ser, eu fico com a primeira opção - a de me permitir ser humana.

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