Na embriaguez de mim mesma
- profgeilzalima
- 18 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Começo a escrever durante um dos meus momentos de pausa para o café. Na verdade, o café é apenas uma desculpa para eu me voltar para o meu íntimo, para me despir de todos os papeis que exerço e revisitar a mim mesma. Luz baixa. Adriana Calcanhoto ao fundo. E eu, apenas eu. Ultimamente, tenho sentido uma calmaria na alma, uma aceitação de mim mesma que nunca existiu antes. É como se, nessa temporada da vida, eu tenha aceitado a minha história e as minhas decisões diante das possibilidades. E não falo enquanto Geilza professora, esposa, filha ou espírita, mas enquanto a Geilza mulher. Tempos atrás fui invadida por uma tempestade de questionamentos sobre o que tenho feito da vida, o que o futuro reservaria para mim nos próximos anos, e até mesmo a inquietação com as escolhas e com a restrição das possibilidades. Mas hoje, em especial, ao tomar o meu café, fiz as pazes comigo mesma. Venho me sentindo em paz nas últimas semanas, feliz por quem eu sou. Não pela carreira, pelo salário, pelos relacionamentos, mas pela minha essência. Por me reerguer de tantos tropeços amorosos até encontrar um amor sereno e pacífico. Pela minha resiliência em aceitar o que a vida me ofertou, diferente do que idealizei para mim. Pela perspectiva de vida, pelo meu olhar para o mundo, pela paixão de ainda estar viva. Pelo filosofar com um bom chá ou café. Pelo sustentar de uma identidade um pouco diferente do convencional. De opiniões objetivas, de saber impor limites como ninguém, de um autoconhecimento aflorado para minha idade. Na realidade, no pensar, em sempre fui precoce. A vida requereu de mim amadurecimento intenso muito cedo para lidar com o que ela me oferecia de experiências, mas esses retalhos doloridos da minha história hoje são preciosos. Ando embriagada de mim mesma. Ando a me admirar para além dos rótulos sociais, por conhecer uma versão minha que ninguém conhece. A pouco mais de 60 dias do cumprimento de uma terceira década de vida, meu coração me acalma e se satisfaz com o que vê. Com quem vê. Ele recolhe até os mais inconfessáveis segredos e se aquieta sereno, amável e em paz. Estou aprendendo que a vida flui quando a gente se coloca em fluxo. Quem fala isso é alguém que já nadou muito contra a direção das águas da vida e cansou. São quase três anos de terapia, de um processo lento de mudanças, de um ir e vir incansável para se desconstruir. Desconstruir palácios de certezas imutáveis que precisam ruir para que a nossa essência germine, desconstruir uma rigidez tremenda que sempre me impediu de fluir com a vida. Mas por uma fração de tempo na escala da eternidade, algo mudou. Sinto-me leve, em paz com quem me tornei. Hoje parece que todas as emoções desses quase 30 anos fazem sentido. As dores, as alegrias, as insatisfações, as ansiedades – todas foram importantes. Vejo-me de um lugar do qual nunca me vi antes. Daqui de cima (ou de baixo, dos lados, quem sabe?), tudo se encontra no seu devido lugar. Atravesso a passagem no meio aos quase 30, embora muitos só a encontrem depois dos 50. Essa coisa de querer algo mais profundo da vida, de não se contentar com o externo, de mergulhar em si e se encontrar, para além das personas que já criamos para dar conta da vida. Já dei conta da vida, agora busco dar conta de mim. E agora, preciso encerrar esse texto, de alguma forma bonita do ponto de vista da escrita. Mas vou encerrá-lo com o que aprendi da vida nesses anos por aqui, encerrá-lo-ei na incompletude, na inexistência de um final feliz pré-fabricado, de algo pronto e acabado. Encerro-o no sabor de quero mais, como a vida acontece.
Comentários