O que realmente importa
- profgeilzalima
- 22 de mai. de 2022
- 3 min de leitura
Eu sempre tive a certeza de que gosto de dias normais. Aqueles dias que a gente chega do trabalho, toma um chá, ajeita o quarto, vai no mercado... dias comuns. Esses são aqueles dias imperceptíveis, ofuscados pela rotina, mas quando de fato paramos e os contemplamos, eles claramente se mostram como dias de paz. Eles são o desfrute que a vida nos proporciona e, na maioria das vezes, não os percebemos. Porém, não aprendemos muito com eles. Aprendemos naqueles dias de tempestade. Aqueles dias que a vida te oferece um giro de 180° e te tira o chão. Eu vivi um dia desses há duas semanas. Mas só vim agora compartilhar com vocês após muitas reflexões. Fiz um exame de rotina e no laudo acusou uma alteração no meu pulmão. Eu esperava abrir o laudo e não encontrar nenhuma informação fora da normalidade. Todavia, estava lá a bendita alteração. Automaticamente, meu organismo respondeu com aquela sensação de pânico. Nessa hora, eu praticamente revisitei todos os meus conhecimentos no campo das ciências biológicas e cheguei a uma conclusão ruim. Nesse instante, por alguns minutos, a vida me trouxe uma reflexão, que quero compartilhá-la com vocês: E se minha partida estiver próxima? Excluindo toda ansiedade que assolava meu corpo, essa pergunta faz muito sentido. E se, de fato, eu estivesse vivendo meus últimos meses de vida? Diante dessa pergunta que me fiz, o primeiro sentimento que veio até mim não foi o desespero, mas a dúvida. Me perguntei imediatamente: o que eu estou deixando? Não pensei na seleção de doutorado, nem na festa de casamento, nem no meu currículo, nem em dinheiro, nem em outras coisas que eu atribuo prioridade na minha vida. A imagem que veio na minha cabeça foram meus alunos e o questionamento sobre o que eu estaria deixando pra eles. Pensei nos meus pais, em tudo que fiz por eles. Pensei em tudo que já fiz pelo meu namorado. Pensei nas pessoas que já ajudei de alguma forma. Pensei nos meus amigos, se eu fui presente para eles. Mas sempre o mesmo pensamento: o que eu deixei? Porque quando sua mente admite a morte como possibilidade (mesmo ela sendo um fato), as verdadeiras prioridades se fazem presente. Eu pensava que minhas prioridades giravam em torno de mim. Dos meus títulos, do meu bem estar, da minha condição financeira. Eu. Eu. Eu. Mas na realidade, as minhas prioridades giram em torno das pessoas que são alcançadas por mim. E, por incrível que pareça, por alguns instantes, a ansiedade cedeu lugar a uma calmaria de estar deixando algo no mundo e ao pensamento de que alguém iria lembrar de mim de modo positivo. Afinal, estaremos vivos enquanto habitarmos nas memórias e nos sentimentos de alguém. Esses poucos instantes me alertaram para o quanto gastamos energia e sofremos por coisas que nem fazem tanto sentido assim. Minha psicóloga sempre fala que preciso olhar mais para fora, e não só para dentro. E, para minha surpresa, quando admiti a morte como uma possibilidade próxima, finalmente olhei para fora. No final das contas, fui ao médico e a alteração pulmonar não significava nada clinicamente. Era um processo de cicatrização de algo que tive na infância. Apesar disso, a reflexão ficou. Independente de ter um diagnóstico ou não, estamos vivos e justamente por isso, somos candidatos ao desencarne todos os dias. E admitindo essa possibilidade, que na verdade é um fato, qual seria sua prioridade? É aí onde estará o lugar que merece sua atenção e energia. Percebi que minha prioridade está em deixar algo positivo para as pessoas. Eu já imaginava que isso era muito forte pra mim, mas não ao ponto de ser meu primeiro questionamento diante de uma situação extrema. Talvez por isso eu leve meu trabalho tão a sério, além das obrigações profissionais. Eu desejo que você enxergue o realmente importa. E que seu foco esteja onde está também o seu coração. Porque cada minuto importa!
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